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Violência nas Escolas – Uma Visão Científica

PM na Escola Thomazia Montoro — Foto: Arthur Stabile/g1

Nos últimos anos estamos vivenciando um enorme crescimento no número de ataques violentos a escolas — inclusive com tiroteios — algo que não era comum em nosso país.

Quais foram os acontecimentos das últimas décadas que podem ter causado esta mudança de comportamento nos jovens? O que os estudos científicos revelam sobre comportamentos violentos? Existem soluções para estes problemas? Tenho ouvido muitas opiniões na mídia sobre as causas e soluções para a violência, mas nenhuma delas leva em consideração as evidências científicas sobre o tema. É exatamente isto que quero oferecer aqui. Esteja pronto para se surpreender!

Ambiente: em um dia desses, ouvi um “especialista” em uma rádio dizendo que é preciso analisar a personalidade dos alunos, procurando por possíveis sinais de distúrbios. No entanto, a ciência demonstra que são raros os casos de violência causados por pessoas com distúrbios — na maioria das vezes, as pessoas se comportam violentamente por causa das circunstâncias em que se encontram. Quando elas sofrem com bullying, tiram notas baixas, precisam estudar em escolas com péssimas condições e tem professores sem o treinamento adequado, existem grandes chances de casos de violência acontecerem. O cientista Lee Ross, da Stanford, ao lado de Richard Nisbett da Universidade de Michigan, descobriram um fenômeno chamado de Erro Fundamental da Atribuição, que demostra que as pessoas tendem a culpar a personalidade dos indivíduos por seus comportamentos, cegando-se para a influência do ambiente na ação das pessoas. Ambientes prevêm o comportamento violento com mais precisão do que personalidades. E como mudar o ambiente das escolas?

O cientista Richard Nisbett da Universidade de Michigan, ao lado de Luiz Gaziri. Tucson, AZ.

Competição: Como bem sabemos, escolas são lugares competitivos em que as crianças fazem de tudo para serem bem avaliadas pelas professoras. Se logo após uma pergunta da professora, dezenas de alunos levantam a mão para responder mas apenas o João tem a permissão da professora, os demais alunos torcem para o João errar a resposta, pois somente assim têm chances de serem reconhecidos. Aqueles alunos mais tímidos, os que fazem parte de minorias (e sentem que serão avaliados pelos grupos que fazem parte e não por sua individualidade), e os desengajados, tendem a continuar quietos na sala de aula, fazendo com que os demais alunos não os conheçam verdadeiramente. Aqui está um prato cheio para possíveis situações de bullying. Pensando neste modelo, o influente cientista Elliot Aronson da Universidade da Califórnia desenvolveu um método inclusivo de ensino, conhecido como Jigsaw Classroom. Em um Jigsaw, uma sala de aula é dividida em pequenos grupos de seis alunos cada, sendo que a professora deve dividi-los de forma com que os grupos sejam equilibrados em termos de raça, gênero, nível de conhecimento, extroversão e assim por diante. Em seguida, a matéria é dividida em seis partes e cada aluno é responsável por dominar a sua parte, e posteriormente ensiná-la para os demais. Assim, os alunos conseguem entender a matéria inteira somente com a ajuda de seus colegas. 

Um dos alunos pode ser mais introvertido, porém, se os outros zombarem dele durante a apresentação, todos serão prejudicados. Alguém pode ser racista, mas trabalhando ao lado de outro aluno de uma raça diferente, passa a perceber que as pessoas “daquela raça” não são todas iguais e que inclusive, ele e a outra pessoa têm muitos pontos em comum. Um menino pode ter o estereótipo de que meninas são ruins em matemática, mas ao resolver um problema que depende do cálculo de uma menina, ele pode perceber que está realizando um julgamento impreciso. Décadas de estudos que analisaram a efetividade do Jigsaw em comparação com maneiras tradicionais de ensino, revelam que o método faz as crianças não somente gostarem mais da escola, mas principalmente terem melhores atitudes frente a pessoas de raças diferentes — fator que vem causando muitos dos ataques em escolas.

Adversidade: Em março de 2022, visitei a neurocientista da Harvard, Katie McLaughlin. Em suas décadas de estudos, a cientista descobriu que crianças que passam por adversidades como fome, exposição à violência, falta de saúde e condições de higiene, apresentam uma amídala mais reativa do que o normal. A amídala é a parte do cérebro que processa estresse, ameaças e insegurança. Isto significa que o cérebro de uma criança mais humilde detecta ameaças com mais facilidade, mesmo em situações em que estas ameaças não existem. A ativação da amídala, segundo um grande corpo de estudos, está fortemente ligada com o aumento da agressividade. Um estudo recente publicado pela cientista Kimberly Noble, da Columbia, revelou que quando uma mãe de baixa renda recebe uma ajuda de pouco mais de USD 300,00 por mês de um programa social, o cérebro de seus filhos se desenvolve normalmente, em comparação com as crianças de mães que não recebem o auxílio. Mas esta responsabilidade não pode ser exclusiva do governo, empresas precisam ter políticas para contratar minorias e assim, possibilitar com que as crianças tenham pais com condições de as oferecer uma vida decente, dando mais carinho e atenção.

Exposição à Violência, TV e Games: é ampla a evidência de que crianças que são expostas com mais frequência a ambientes violentos, assim como aquelas que assistem a programas de televisão e jogam games sangrentos, apresentam uma tendência maior a terem comportamentos agressivos. Um dos primeiros experimentos a demonstrar esta influência foi realizado pelos cientistas Robert Liebert, da Universidade Estadual de Nova York e Robert Baron, da Purdue University. Cento e trinta e seis crianças entre 5 a 9 anos de idade foram expostas a um episódio extremamente violento de um drama policial contendo duas brigas corporais, dois tiroteios, uma perseguição e um esfaqueamento. Outro grupo de crianças assistiu a um evento esportivo com saltos em altura e corrida com obstáculos. Em seguida, as crianças eram colocadas em uma atividade em que podiam ajudar ou machucar outra criança. Aquelas que assistiram ao vídeo violento tinham uma tendência maior em preferir machucar um colega logo em seguida. Estudos individuais e meta análises mostram que quando gamers são recompensados com pontos e avanços a novas fases por matar e agir de forma violenta, a consequência é um aumento em sentimentos hostis, pensamentos agressivos e atos de violência, independentemente da origem cultural do jogador. Ainda mais grave do que estes fatos é o de que o costume em jogar videogames violentos pode fazer com que as pessoas se habituem com a violência. Recentemente, cientistas de universidades holandesas e americanas examinaram os padrões de ondas cerebrais de participantes que eram expostos a imagens violentas, como a de um homem colocando uma arma na boca de outro homem. Confirmando as descobertas de outros estudos, os participantes que estavam habituados a jogar videogames violentos tinham padrões de ondas cerebrais que indicavam insensibilidade a imagem. Algo ainda mais perturbador foi descoberto pelos cientistas ingleses Tobias Greitemeyer e Neil McLatchie. Após jogarem jogos violentos, cooperativos ou neutros por 15 minutos, os participantes de um experimento deveriam responder a um questionário sobre os traços de personalidade de ingleses e de imigrantes. Aqueles expostos a violência por um curto período de tempo julgavam que os imigrantes eram “menos humanos” e “mereciam menos” do que os ingleses. Sim, jogos violentos causam racismo e outros tipos de discriminação. Por este motivo, é fundamental que os pais controlem os tipos de jogos que seus filhos são expostos, estes jogos não são inofensivos. Muitos dos autores de massacres em escolas americanas, inclusive, eram viciados em jogos em que deveriam atirar em personagens.

Além dessas variáveis, existem muitas outras estudadas pela ciência que causam violência: como o consumo excessivo de mídias sociais e o acesso facilitado a armas. Ao entendermos através da ciência o que está por trás destas situações preocupantes, ganhamos o poder de saber exatamente o que fazer para resolvê-las. 

Que tal deixarmos de lado as agendas políticas e trabalharmos JUNTOS para resolver os problemas que verdadeiramente importam em nosso país?

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Meu compromisso com você é sempre apresentar conteúdos 100% Ciência, 0% Achismo.

Um abraço,

Luiz Gaziri

Professor de Pós-Graduação na Unicamp e FAE Business School

Autor de “A Arte de Enganar a Si Mesmo”, “A Ciência da Felicidade”, “A Incrível Ciência das Vendas” e “Os Sete Princípios da Felicidade.”