Em novembro de 2006, a renomada revista científica Science publicou um artigo intrigante sobre as consequências do dinheiro em nosso comportamento. Nele, pesquisadoras da Universidade de Minnesota, Universidade Estadual da Flórida e Universidade da Colúmbia Britânica realizaram nove experimentos nos quais os participantes foram estimulados com “dinheiro” – a utilização das aspas indica que, na verdade, o “dinheiro” oferecido aos participantes não era real. Em alguns experimentos os participantes ordenaram sequências de palavras para que se tornassem frases, sendo que os grupos estimulados com “dinheiro” recebiam palavras que os lembravam de dinheiro, enquanto os outros grupos ordenavam palavras neutras. As condições dos demais experimentos eram similares: os participantes eram incentivados com dinheiro de um jogo de tabuleiro, ou deveriam realizar uma tarefa posicionados de frente para uma parede onde estava um quadro com desenho de notas de dinheiro, ou eram solicitados a realizar uma tarefa em um computador cuja tela de descanso era uma animação feita com dinheiro, ou eram solicitados a ler em voz alta uma redação sobre crescer tendo uma vida com dinheiro abundante, ou ainda eram estimulados a imaginar uma vida com muito dinheiro. Os outros grupos dos experimentos realizavam tarefas sem esse “incentivo”, recebendo estímulos moderados ou neutros. O que aconteceu foi alarmante!

Ilustração do quadro usado no experimento

Ilustração da tela de descanso usada no experimento: Vohs, K. D., Mead, N. L., & Goode, M. R. (2006). The psychological consequences of money. Science, 314(5802), 1154-1156.
Nos mais diversos experimentos, estímulos com “dinheiro” fizeram os participantes demorarem mais tempo para pedir ajuda em uma tarefa difícil, passarem menos tempo ajudando e dando explicações a um colega durante o trabalho, estarem menos dispostos a ajudar alguém que sofreu um pequeno acidente, doarem menos dinheiro para estudantes bolsistas, sentarem-se mais longe dos colegas, escolherem experiências individuais em vez de experiências em que várias pessoas poderiam se divertir e, finalmente, optarem por trabalhar sozinhos em uma tarefa, evitando fazê-la em grupo.
No mundo corporativo, executivos gostam de adotar discursos que enfatizam como em suas empresas o trabalho em equipe é um dos comportamentos mais valorizados, enquanto pagam comissões, bônus, prêmios e participação nos lucros para os funcionários. Nos ambientes invadidos pelos modismos do pagamento por performance e da meritocracia – na qual os indivíduos são pagos, promovidos ou demitidos de acordo com a sua performance individual–, o trabalho em equipe torna-se praticamente impossível. As autoras do artigo, Kathleen Vohs, Nicole Mead e Miranda Goode, afirmaram que o dinheiro proporciona às pessoas a sensação de independência, de que podem alcançar seus objetivos sem a ajuda dos outros – o que explica, de forma mais clara, as consequências negativas das políticas de meritocracia individual. Além disso, o conceito de meritocracia dentro de uma empresa, apesar de belo no discurso, falha miseravelmente na prática. Em ambientes de trabalho cada vez mais complexos, dificilmente o desempenho de um funcionário depende apenas da sua dedicação e do seu esforço. Não que esses fatores não sejam importantes, mas hoje a performance de um funcionário depende muito mais de fatores que fogem ao seu controle do que de outros que dependem exclusivamente da sua força de vontade. Está mais do que na hora de as empresas começarem a equilibrar seus discursos com suas ações. Mérito se conquista em grupo, não individualmente.
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Se apenas pensar em dinheiro já produz comportamentos inadequados, veruma grande quantidade dele resulta em consequências ainda mais graves. Pesquisadores de Harvard e da Universidade de Washington realizaram um estudo no qual, antes de realizar uma tarefa, um grupo de participantes visualizava um maço de notas que somavam US$ 24, e outro grupo visualizava US$ 7 mil em vários maços. O resultado foi que 85,2% das pessoas do grupo que visualizou uma grande quantidade de dinheiro trapacearam na tarefa, contra apenas 38,5% do grupo que viu uma pequena quantidade de dinheiro. Além disso, a magnitude das trapaças também foi diferente em ambas as condições:
80% do grupo que viu US$ 7 mil trapaceou em alto nível, ao passo que somente 26% do outro grupo se engajou nesse comportamento.
São estes tipos de comportamento que você quer ver em sua empresa?
Cuidado ao basear suas estratégias em incentivos financeiros e em vender para os colaboradores a ideia de que a única maneira de medir o sucesso é através do dinheiro.
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Um abraço,
Luiz Gaziri
Professor de Pós-Graduação na Unicamp e FAE Business School
Autor de “A Ciência da Felicidade”, “A Incrível Ciência das Vendas” e “Os Sete Princípios da Felicidade.”
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