Em 2007, os cientistas Cass Sunstein da Harvard, Reid Hestie da Universidade de Chicago e David Schkade da Universidade da Califórnia San Diego, realizaram um estudo envolvendo pessoas com direcionamento político de esquerda e direita. Inicialmente, cada participante respondia a um questionário indicando sua posição em uma variedade de assuntos, usando uma escala entre 1 e 10. Posteriormente, estas pessoas se reuniam em grupos compostos por uma maioria de indivíduos com o mesmo direcionamento político, para debater três assuntos: aquecimento global, casamento gay e inclusão de minorias. Após a discussão em grupo, cada individuo deveria responder a um novo questionário sobre suas posições nos mesmos assuntos, usando uma escala igual a do primeiro questionário. Os resultados foram alarmantes! Após serem expostos as opiniões de outras pessoas com a mesma mentalidade, os participantes assumiram posições ainda mais radicais sobre os assuntos. Esta e muitos outras evidências científicas apontam para o fato de que, sozinhas, as pessoas não conseguem pensar em todas as razões pelas quais sustentam certa posição. No entanto, quando conversam com outras pessoas com crenças similares as delas, acabam sendo expostas a novas opiniões e argumentos sobre os quais nunca haviam refletido, o que faz com que elas se movam para posições cada vez mais extremas.
Um estudo similar a este foi conduzido em 2016 por cientistas da Universidade do Colorado. Inicialmente cada participante deveria indicar com uma marca sob uma linha sua posição em relação a dois presidentes americanos, como no exemplo abaixo:

A linha tinha 15,8 cm de comprimento, portanto, aqueles que realizassem uma marcação próxima ao início, indicavam que Barack Obama era seu político preferido e aqueles que marcassem um traço próximo aos 15,8 cm mostravam sua preferência por George W. Bush.

Participante indicando sua preferência por Obama.

Participante indicando sua preferência por Bush.
Com esta informação em mãos, os cientistas direcionavam as pessoas para grupos compostos apenas por pessoas com o mesmo direcionamento político, onde elas deveriam discutir por 15 minutos porque seu político preferido havia feito um melhor trabalho nas áreas da economia e política exterior quando presidente, chegando a um consenso. Posteriormente, os participantes respondiam individualmente a uma série de perguntas, entre elas, duas eram fundamentais para as conclusões do estudo:
1. Cada participante deveria relembrar sua posição anterior à discussão e a marcar na linha.
2. Cada participante deveria marcar na linha o quanto seu posicionamento havia mudado após a discussão em grupo.
Como você pode imaginar, repetindo o que aconteceu no estudo apresentado anteriormente, a segunda questão indicou que cada participante se tornou mais extremo em direção ao seu candidato após a discussão em grupo, porém, o que chama atenção neste estudo são os resultados da primeira pergunta. Quando cada indivíduo foi colocado para relembrar sua posição inicial em relação ao político, os participantes realizaram marcações mais extremas do que as originais. Isto demonstra que após discutirmos assuntos carregados de ideologia em grupos de pessoas com posicionamentos iguais aos nossos, passarmos a acreditar que sempre tivemos posições extremas, nos cegando para o fato de que nossas posições iniciais eram mais moderadas.
Em 2021, cientistas da Pricenton, Universidade do Sul Califórnia, Hertie School e Universidade de Illinois publicaram os resultados de um experimento revelador, que levou 16 meses para ser concluído. Os cientistas mudaram a página inicial dos navegadores dos participantes, que tinham posições políticas distintas. Um terço passou a acessar como página inicial um portal de notícias mais conservador, um terço passou a acessar um portal liberal e o restante não foi exposto a site algum – o grupo de controle. Os participantes também foram solicitados a seguir as páginas destes veículos nas mídias sociais e assinar seus newsletters, para garantir uma exposição ainda maiordos participantes a notícias políticas. Apenas nos dois primeiros meses de intervenção, mais de 19 milhões de visitas a sites foram analisadas. Nos meses finais do estudo, os participantes respondiam a uma bateria de perguntas que analisava suas opiniões sobre assuntos políticos. Haveria um equilíbio maior nas opiniões dos participantes depois de consumir notícias sobre o “outro lado?” Os cientistas deste estudo não encontraram mudanças significativas nas opiniões das pessoas, mostrando o fraco efeito de influência da mídia, mesmo após a exposição dos participantes a portais claramente parciais. Outros estudos recentes mostraram os mesmos efeitos em campanhas políticas, mesmo as realizadas através das mídias sociais.
É tentador para cada um de nós concluir que outras pessoas são facilmente influenciadas pelo posicionamento da mídia ou mudam de candidato após a publicação de pesquisas eleitorais, mas estas poderosas evidências nos mostram que estes efeitos simplesmente não existem. Perceba que consumir mídias favoráveis ou desfavoráveis ao nosso posicionamento político tem o mesmo efeito: aumentar o nosso radicalismo.
Lee Ross, um dos cientistas mais influentes da história da psicologia, descobriu um viés cognitivo conhecido como Realismo Ingênuo. Todos nós acreditamos ter uma visão objetiva dos fatos, enxergar o mundo exatamente como ele é, e sermos imunes a qualquer influência externa em nossas decisões.
Com a ilusão de que tomamos decisões perfeitas, avaliamos aqueles que enxergam o mundo de forma diferente da nossa como estúpidos, malucos, mal-intencionados ou tendenciosos. A realidade, porém, é que todos nós temos algum viés influenciando nossos julgamentos e que uma dose imensa de humildade é necessária para se livrar deles para então, termos posições realmente baseadas nas melhores evidências, independentemente da quantidade de desconforto que elas nos causem.
É possível verificarmos que existem pessoas abertas a discutir certos assuntos com aquelas que possuem posições contrárias, porém, estas pessoas abordam as que pensam diferente tentando fazê-las mudar de opinião, não com a humildade em reconhecer que talvez suas próprias opiniões sejam as que devem ser mudadas.
Seria este o seu caso? Pense nisso!
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Um abraço,
Luiz Gaziri
Professor de Pós-Graduação na Unicamp e FAE Business School
Autor de “A Ciência da Felicidade”, “A Incrível Ciência das Vendas” e “Os Sete Princípios da Felicidade.”
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